domingo, agosto 7

Textos - Uma parábola de nossa época

Uma parábola de nossa época



Alguns dias atrás eu assisti ao filme Fúria de Titãs, e me chamou bastante atenção este filme. Além da riqueza em seus detalhes, como os efeitos especiais, o cenário montado, dentre outras coisas, o que mais me fascinou, foi notar a riqueza teológica do mesmo. Neste sentido, eu o compreendi o mesmo como uma parábola de nossa época, no estilo das narrativas bíblicas. 

A Bíblia é um livro Sagrado para os cristãos, contendo dois Testamentos (diferente da Tora Judaica que só contem o Ant. Testamento) que tem a finalidade de narrar à história da salvação, que se concretiza em Jesus.
Ora, a Bíblia é um texto que contem muitas parábolas, principalmente Novo Testamento, aonde elas aparecem com muita freqüência nos ditos de Jesus, nos Evangelhos Sinóticos. Mas afinal de contas, o que são parábolas?
O dicionário gramatical do grego do N. T. edição de bolso, é bastante objetivo quando diz que uma parábola é uma: “história curta e instrutiva que contém uma analogia” (DEMOSS, 2004, p. 129). Sendo um pouco mais intenso, o teólogo Benito Marconcini, no livro: Os Evangelhos sinóticos, diz: “O vocábulo significa uma “realidade posta ao lado”, literalmente “atirada junto”: é uma comparação que se prolonga, uma narrativa que compara duas realidades, uma delas conhecida e diretamente entendida na narrativa; a outra a ser descoberta no final, de tal modo, porém, que se chegue a entender a ambas como uma unidade. A verdade entendida por meio da narrativa, portanto, não é uma verdade fechada em si mesma, mas encontra seu pleno significado naquilo que se descobre além dela (MARCONSINI, 2004, p. 221).
Portanto, depois de darmos algumas pinceladas no significado teológico deste termo, podemos dizer que o filme Fúria de Titãs é uma parábola de nossa época. Chegamos a presente conclusão porque entendemos que o presente filme, apesar de ser uma ficção com um tom secular (bastante existencialista), o mesmo tem um conteúdo puramente religioso.
Digo isto, por dois motivos, o primeiro deles é que apesar de não sabermos quais são as reais convicções religiosas do presente autor (o francês Louis Laterrier), percebo neste filme muitos elementos religiosos, alguns bastante parecidos com a tradição cristã (isto é normal, uma vez que o autor é normal, porque o cristianismo permeia a cultura ocidental). O segundo motivo é um complemento do primeiro, pois, este filme tem um enredo plenamente teológico (metafísico podemos dizer), porque o autor busca mostrar como a mitologia era fundamental para explicação da realidade no mundo grego.
Ora, deixa eu explicar logo porque este filme é uma parábola de nossa época. Começaremos com um breve resumo do filme seguido de nossa conclusão.
Se prestarmos atenção no filmo perceberemos a ânsia dos gregos em viverem livres dos deuses, pois, estes acreditavam que eles poderiam viver sem os mesmos.
Indo um pouco mais adiante, perceberemos a fúria dos deuses por conta desta rebelião, aonde decidem declarar guerra contra os seres humanos, aonde é pedido a vida da princesa, em sacrifício aos deuses, caso contrário a terra seria destruída. Neste momento aparece a figura central do filme Perseu filho de Zeus (personagem bastante confuso), que tem a missão de salvar a humanidade. Perseu é auxiliado por Io, que é uma espécie de conselheira.
O filme termina depois da derrota de Crakem (monstro aquático, criado por Hades) para Perseu, que consegue trazer paz a humanidade.
Isto lembra, a ânsia de emancipação dos homens do Iluminismo, que convictos que a humanidade havia chegado a maturidade, buscaram se livrar de todos os elementos religiosos que cercavam a sociedade. Este momento histórico o teólogo Rubem Alves chamara de Exílio do Sagrado, momento este que os homens abrem mão de Deus, para adorarem a outro: a ciência e a tecnologia.
Podemos dizer que nenhum filme é feito por acaso, mas tem uma finalidade, ou seja, ele quer vender uma idéia. Os homens de nosso mundo quiseram se livrar de Deus (ou dos deuses), mas não conseguiram, pois, aonde eles fossem Deus estava lá gravado em suas mentes e corações. Podemos ver isto na tradição ocidental (como foi dito acima) com as idéias de secularização[1][1] e progresso (teleologia, ou seja, a história tem uma finalidade) que fazem parte da tradição cristã.
É uma pena que os homens na tentativa de se livrarem de Deus ou deuses, transformaram o mundo que eles almejavam que fosse um paraíso, em um inferno, com milhares de mortos, para cumprir esta missão de um mundo sem Deus.
No entanto foi- se percebendo que mesmo com todo o progresso de nossas sociedades, a ciência não respondia a todas as perguntas feitas pelo homem, é ai que nasce um fenômeno, que é chamado por muitos historiadores, de pós- modernidade, que é a volta da religião a esfera pública. Laçando ao chão todos os mitos criados pelo homem moderno, que acreditavam que com o progresso da sociedade a religião iria desaparecer. No entanto não foi isto o que assistimos no último século.
Seria à fúria dos Titãs?
É obvio que em muitas coisas nós não precisamos mais de Deus, para explicar a realidade (entendam o que estou querendo dizer), por exemplo: quando chove e caem raios que matam milhares de pessoas, eu não digo que os deuses estão furiosos (como diriam os gregos, por exemplo), mas que isto é um fenômeno da natureza e uma série de outros fatores. No entanto, problema pode ser resolvido por um “para- raios”. Ou então quando alguém cai no chão com a boca espumando, na maioria das vezes, eu sei que não é um demônio, mas que a pessoa sobre de epilepsia.
No entanto eu não posso dizer que por conta destas descobertas do homem que contribuíram muito para o desenvolvimento da humanidade, que Deus não existe, ou que ele seja desnecessário.  
O fenômeno dos fundamentalismos religiosos é um fenômeno deste momento de tensão, nasce como uma reação a este atitude ateísta, mas que acabou se tornando em terrorismo.
Neste sentido, o filme é uma parábola (ou seja, uma critica ao mundo moderno, ou pós moderno) que mostra os homens tentando se livrar de Deus, todavia, os homens se esqueceram que Deus é imortal.
Como se pode perceber a minha leitura não é de cunho apologético (descupem- me os conservadores fundamentalistas que vem em tudo o que não é cristão de forma negativa), mas de apreciação, tentando perceber qual é a contribuição do mesmo, no que diz respeito à reflexão teológica.
Concordo com a afirmação de Paul Tillich que diz: Deus esta presente na existência secular, tanto quanto está presente na existência sagrada. (TILLICH, 2006, P. 36). 

Leonardo Ribeiro Santana  
Formado em Teologia
www.leorsantana.blogspot.com

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